- 22/08/2022
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Advogados e estagiários de escritórios de advocacia de Pernambuco relatam abusos e assédios, em rede social
Em quatro dias, perfil no Instagram ultrapassou 2 mil seguidores e reúne relatos sobre atraso salarial, desrespeito ao piso da categoria e gritos no local de trabalho, entre outros problemas.
Relatos de assédio moral e abusos em escritórios de advocacia de Pernambuco estão sendo compartilhados em uma página no Instagram criada para relatar experiências nesses ambientes. Em quatro dias, o perfil ultrapassou 2 mil seguidores e reúne diversos relatos sobre problemas como atraso salarial, desrespeito ao piso da categoria e gritos no local de trabalho.
Em dezenas de denúncias, ao menos 13 escritórios de advocacia foram citados. Algumas pessoas relataram crises de ansiedade, síndrome de pânico e burnout (termo em inglês que se refere à síndrome resultante do excesso de trabalho) como consequência de jornadas de trabalho excessivas e assédios.
O g1 conversou com o criador do perfil “Escritórios Expostos PE”, que preferiu não ser identificado. Ele afirmou que se inspirou no perfil “Escritórios Expostos”, que reúne relatos do que acontece em escritórios de advocacia de todo o Brasil e foi criado após o estagiário de um conhecido escritório de São Paulo cometer uma tentativa de suicídio no local de trabalho.
“Esse perfil de São Paulo começou a expor o escritório onde isso aconteceu e, depois disso, começaram a chegar nesse perfil diversos relatos expondo não só esse escritório, como outros diversos espalhados por todo o Brasil. Percebemos que esse primeiro perfil não conseguia postar tudo que chegava até eles, então resolvemos criar um perfil só daqui de Pernambuco”, afirmou.
A intenção, segundo o criador da página em Pernambuco, é escutar e expor os relatos dos estagiários e advogados pernambucanos, já que muitos não conseguem expressar o que sentem e lidam com o medo das consequências de falarem sobre o assunto.
“Muitos advogados e estagiários estão adoentados, física e mentalmente, com ansiedade, burnout, entre diversos problemas causados pela forma que se estabelece em muitos escritórios no nosso estado”, declarou.
O administrador do perfil ressaltou que a página não foi criada apenas para publicar experiências negativas. No entanto, ainda são raros os relatos positivos.
“É importantíssimo ressaltar que não é a intenção do perfil expor relatos apenas negativos, mas a grande maioria desses relatos tem mensagens negativas sobre os escritórios de advocacia do estado”, disse.
Nas legendas das postagens, a página marca a seccional Pernambuco da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE), o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), o Ministério Público do Trabalho (MPT) e os escritórios citados pelos profissionais.
“Todos os escritórios podem se pronunciar na página caso queiram. Os comentários estão abertos para todos. E esperamos que as instituições competentes, como OAB, MPPE, MPT, entre outras, realmente investiguem os relatos negativos dos advogados e estagiários”, afirmou.
Um advogado que também preferiu não ser identificado contou que os relatos são reflexo do que se vê diariamente nesses locais de trabalho.
“Pior que não é nada mentira. A gente vê isso todo dia. E os escritórios já sabem o que está acontecendo. Alguns estão até tentando impor aos ‘colaboradores’ que não sigam, nem curtam ou comentem a página”, afirmou.
Respostas
O g1 procurou a OAB, o MPPE e o MPT para saber se eles tomaram conhecimento das denúncias e quais providências foram tomadas.
Por meio de nota, o presidente da OAB-PE, Fernando Ribeiro Lins, disse que a instituição não recebeu nenhuma denúncia formal. Também afirmou que, caso receba, a OAB, de forma efetiva, vai acompanhar, investigar e fazer os devidos encaminhamentos com toda a cautela necessária. Denúncias podem ser feitas pela internet, no formulário da Ouvidoria.
O MPPE também declarou que não há registro ou solicitação de providências sobre o assunto na Ouvidoria. Além disso, afirmou que casos desse tipo tratam de violação de direitos e interesses de natureza privada, cabendo ao Ministério, “no âmbito de suas atribuições, à defesa dos interesses públicos, coletivos e difusos, além daqueles constitucionalmente protegidos às pessoas vulneráveis”.
O Ministério Público do Trabalho, por sua vez, disse que as pessoas devem formalizar as denúncias nos canais oficiais do órgão ministerial, a exemplo do site do MPT ou do aplicativo Pardal. Nos canais oficiais, é possível encaminhar as informações mínimas necessárias para a abertura de investigações. As denúncias podem ser realizadas de forma sigilosa ou anônima.
O g1 também entrou em contato com a Polícia Civil, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem.