- 31/05/2025
- Sem Comentário
- 4 Minutos de Leitura
Cacau Show: Denúncias Apontam Clima de “Seita” Entre Franqueados

Grandes eventos motivacionais repletos de palestras, música alta, discursos emocionantes e histórias inspiradoras de sucesso marcam o cotidiano da Cacau Show. No entanto, por trás desse cenário aparentemente empoderador, franqueados afirmam viver uma realidade bem diferente. Segundo relatos, a maior rede de franquias de chocolates do Brasil, comandada pelo fundador e CEO Alexandre Tadeu da Costa — conhecido como Alê Costa — opera sob um clima que alguns classificam como “seita”. Nesse ambiente, questionar normas ou discordar das diretrizes da empresa pode resultar em punições severas.
Os problemas vão desde a ausência de espaço para discutir questões contratuais até políticas comerciais consideradas abusivas, como aumentos abruptos nos preços dos produtos sem negociação prévia. Franqueados que ousam reclamar dessas práticas relatam represálias. Entre elas, o recebimento de mercadorias com validade próxima ao vencimento ou produtos encalhados, dificultando ainda mais a operação das lojas. Em muitos casos, essas retaliações levaram empresários à falência, forçando-os a fechar suas unidades.
Na Justiça, a Cacau Show enfrenta processos relacionados a cobranças indevidas e descumprimento de fornecimento adequado de produtos às franquias. Um caso emblemático, que tramita na 25ª Vara Cível de Brasília, destaca a prática institucionalizada de retirar crédito dos franqueados que entram em disputas legais com a empresa. Essa medida os obriga a comprar estoques à vista, algo que foi considerado abusivo pelo juiz Julio Roberto dos Reis.
“É inequívoco que a política interna da demandada [Cacau Show] afronta o princípio constitucional da liberdade profissional”, afirmou o magistrado. “A restrição de crédito para fornecimento exclusivo de produtos, instrumento essencial da atividade econômica, configura mero revanchismo e viola o direito constitucional de ação dos franqueados.”
Insatisfeitos e buscando apoio mútuo, franqueados criaram o perfil “Doce Amargura” em uma rede social para compartilhar suas experiências. A página, administrada anonimamente por uma empresária do interior de São Paulo, ganhou visibilidade rapidamente. Contudo, a exposição trouxe consequências: a responsável pela iniciativa recebeu a visita inesperada de Túlio Freitas, vice-presidente da Cacau Show. Durante o encontro, ele teria questionado o que seria necessário para que ela abandonasse as denúncias. Agora, ela busca judicialmente rescindir seu contrato com a empresa.
Em nota oficial, a Cacau Show negou as acusações e afirmou ser uma marca comprometida com transparência e respeito aos franqueados. “Somos uma marca construída com base na confiança mútua, no respeito e na conexão genuína com nossos franqueados”, diz o comunicado. A empresa também destacou que visitas realizadas por Túlio Freitas fazem parte de suas atribuições regulares e visam fortalecer o relacionamento com as lojas.
No entanto, para muitos franqueados, as práticas descritas parecem distantes dessa narrativa idealizada. Enquanto a polêmica segue em debate, a imagem da gigante do chocolate enfrenta questionamentos sobre ética, transparência e responsabilidade corporativa.