- 24/03/2022
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Corredores superlotados, infiltrações e ratos marcam cenário de insalubridade e descaso no Hospital da Restauração
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, hospital é um local que funciona como parte integrante de um sistema coordenado de saúde, que tem como objetivo dar assistência à comunidade, seja em caráter de prevenção ou até mesmo de cura. E, carregando a responsabilidade de ser o maior hospital público da Região Nordeste do país, e também referência dentro do Recife em diversas áreas, a exemplo de trauma, ortopedia e neurologia, o Hospital da Restauração deveria fazer parte desse critério da OMS e oferecer serviçosde saúde aos que chegam por lá necessitando de ajuda. Porém, a realidade é totalmente diferente, e atualmente, nem o básico está sendo cumprido por lá.
Uma funcionária do Hospital de Restauração, que concedeu entrevista à reportagem do Diario de Pernambuco na condição de anonimato, contou algumas das cenas que são corriqueiras por lá, mas não deveriam. A presença frequente de animais como ratos, junto às condições insalubres nas salas dos técnicos de enfermagem da instituição, assim como nos corredores superlotados em que ficam os pacientes, foram relatadas pela profissional da área da saúde.
Ilustrando sua fala com imagens e vídeos (que permanecerão preservados a pedido da fonte), a profissional detalhou inicialmente as condições insalubres em que se encontram os dois quartos destinados aos técnicos de enfermagem da instituição. “No primeiro quarto dos técnicos de enfermagem, que fica próximo da sala vermelha, o ar-condicionado tá com um vazamento, e em vez de providenciarem para arrumar, colocaram umas capas nos colchões para que os funcionários dormissem no chão”, contou.
Em uma das noites de plantão, aliás, um grupo presenciou o quarto ficar alagado. Outros, no entanto, se deixaram vencer pelo cansaço da rotina exaustante de atenção à saúde do próximo. “Quando acordamos de madrugada no nosso horário de descanso, tinha uma técnica que estava deitada no colchão, no chão, bem próxima da porta do banheiro, com dois dedos de água. O quarto ficou todo alagado e tinha até gente dormindo no colchão do chão, em cima da água mesmo”, relatou.
Ainda sobre as condições do primeiro quarto, a falta de limpeza e organização de algumas partes vem acarretando a entrada de animais. Baratas e ratos, por exemplo, já foram vistos por mais de uma vez dentro no hospital.
“O beliche tá quebrado, a parte de baixo também tá quebrada, aí colocaram um colchão lá. Na parte dos armários, tá tudo cheio de morfo. Em cima tem uma janela que tá quebrada e fica entrando barata dentro sempre. A gente já viu até uma catita (filhote de rato) dentro do quarto”, expôs.
A situação não é muito diferente no segundo quarto em que os profissionais ficam. “No segundo quarto dos técnicos, tem um ar-condicionado quebrado há mais de um mês. A supervisão diz que vai resolver, e não resolve. Tá muito jogado”, resumiu.
Reforçando a ciência dos gestores responsáveis pela supervisão do Hospital da Restauração sobre os acontecimentos, a profissional confessou que algumas vezes os técnicos recebem acenos positivos a respeito de mudanças, mas nada é modificado na prática do dia a dia. “A supervisão do hospital sabe como está a situação dos quartos dos técnicos, e não toma providência de chamar a manutenção ou o conserto. Não adianta dizer que chamou, e não ter como provar. A gente quer melhoria de trabalho”, pontuou.
Fora dos dormitórios, o descaso e a sensação de abandono seguem presentes. Na copa (local onde são feitas as refeições), as mesmas “visitas” indesejadas já foram recebidas, além de mais problemáticas. “Tem uma copa lá que tem barata e catita (filhote de rato); tem balde que tá destampado e armários quebrados com morfo. Tá um caos”, avaliou.
Outros ambientes que ferem as normas sanitárias básicas são os já conhecidos corredores, geralmente flagrados com superlotação e falta de estrutura. Agora, o relato se estendeu também aos acompanhantes, que estão dormindo em pedaços de papelão abaixo das macas. “No corredor, os pacientes são jogados no chão com calor, e os acompanhantes deles dormem abaixo da cama, em um papelão. É pouco técnico para muito paciente também, porque às vezes tem uns 200 pacientes naquele corredor”, ressaltou por fim.
Diario de Pernambuco