- 20/12/2024
- Sem Comentário
- 139
- 4 Minutos de Leitura
Dólar nas alturas: impacto vai muito além das viagens ao exterior
O aumento do dólar, que subiu 7% em dois meses e permanece acima de R$ 6, traz reflexos além das viagens internacionais. Especialistas destacam que os impactos vão muito além do turismo, atingindo o dia a dia das famílias brasileiras, especialmente as de menor renda, com produtos mais caros e inflação pressionada.
Por que o dólar caro pesa tanto no Brasil?
Ao contrário do senso comum de que apenas os mais ricos são afetados, o economista Gustavo Cruz, da RB Investimentos, alerta para o impacto indireto do câmbio elevado: “Itens que compõem o consumo diário, incluindo alimentos, combustíveis e produtos importados, sofrem aumentos expressivos, encarecendo a vida de todos”.
Entre os mais prejudicados estão os consumidores de baixa renda, para quem alimentos como trigo, carnes e produtos derivados de soja se tornam cada vez mais inacessíveis. Dados do IBGE apontam alta de 8,41% na alimentação domiciliar nos últimos 12 meses.
Além disso, a dependência do mercado brasileiro de insumos e produtos importados intensifica o problema. Com a necessidade de importar trigo e outros itens devido à baixa produção nacional, o real desvalorizado pressiona preços ao consumidor.
Preços sobem e afetam diferentes setores
Alimentos
Alimentos de base, como pão e massas, enfrentam alta direta pelo aumento do custo de trigo importado. Já carnes tiveram crescimento de 15,43% nos preços, refletindo uma menor oferta no mercado interno e o aumento das exportações.
Combustíveis
A gasolina e o diesel, cotados em dólar, estão entre os mais impactados. O diesel registrou o maior preço médio anual, com alta da demanda e repasses ao consumidor. Esses aumentos repercutem também nos custos de transporte e frete, elevando os preços de produtos em geral.
Passagens aéreas
As companhias aéreas, com custos dolarizados, como leasing de aeronaves e querosene de aviação (QAV), aumentaram suas tarifas. O preço médio das passagens subiu 22,65%, dificultando viagens mesmo dentro do país.
Efeitos colaterais na economia
O impacto vai além do bolso do consumidor. A indústria também sente os reflexos, com aumento nos custos de insumos importados, enquanto empresas exportadoras aproveitam a valorização do dólar para obter ganhos. O aumento da dívida externa brasileira em reais, devido à desvalorização do real, também preocupa o mercado financeiro.
Apesar do crescimento econômico acima de 3% pelo quarto ano consecutivo, o aumento do consumo pressiona ainda mais a inflação. Segundo o Banco Central, a recuperação econômica impulsiona a demanda, mas a oferta limitada de bens dificulta o equilíbrio dos preços.
Dólar alto no cotidiano: como afeta sua vida
- Produtos importados mais caros: Eletrônicos, roupas e cosméticos sofrem reajustes.
- Viagens internacionais inviáveis: Passagens, hospedagens e despesas no exterior ficaram mais salgadas.
- Custos na saúde: Medicamentos e equipamentos médicos importados têm preços pressionados.
- Inflação em alimentos básicos: Produtos como pão, carnes e azeite sofrem maior impacto.
- Pressão nos serviços básicos: O custo de transporte e combustível afeta setores essenciais.
Palavra de especialistas
Ricardo Alban, da CNI, sugere maior coordenação entre agentes econômicos e políticos para reduzir os impactos da instabilidade cambial. Já Marcela Botana, da consultoria Kantar, observa que as famílias estão adaptando seus hábitos para driblar a inflação, focando no básico.
A médio prazo, a manutenção do dólar em patamares elevados sinaliza a necessidade de estratégias sólidas para equilibrar os efeitos econômicos, sociais e industriais.