- 17/12/2024
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Dólar oscila em dia turbulento, atinge R$ 6,20 e fecha a R$ 6,09 com atuação do BC
O dólar teve um dia de forte volatilidade nesta terça-feira (17), alcançando R$ 6,20 durante as negociações, antes de recuar e fechar em R$ 6,09 — um leve avanço de 0,02%. O cenário foi marcado pela preocupação com o risco fiscal brasileiro e pela expectativa sobre novas medidas de ajuste econômico.
A alta durante o pregão foi contida principalmente pela intervenção do Banco Central, que realizou dois leilões de venda de dólares, movimentando um total de US$ 3,2 bilhões. O primeiro leilão injetou US$ 1,2 bilhão no mercado, enquanto o segundo somou mais US$ 2 bilhões. Além disso, o mercado reagiu positivamente à declaração do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre o início da análise, ainda hoje, do pacote de corte de gastos proposto pelo governo federal. O plano inclui um Projeto de Lei (PL), um Projeto de Lei Complementar (PLP) e uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC), com previsão de economizar cerca de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos.
Outro fator de pressão no câmbio foi a divulgação da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que detalhou as razões para o aumento dos juros, apontando a inflação persistente e a recente desvalorização cambial como principais preocupações. Segundo Sérgio Goldstein, estrategista-chefe da Warren Investimentos, o documento reforçou a unanimidade nas decisões e destacou uma “deterioração relevante” nos fatores de curto e médio prazos, como câmbio, inflação corrente e expectativas econômicas.
O professor de finanças da Universidade Federal Fluminense (UFF), Pedro Ivo Camacho Salvador, avaliou que o comportamento do dólar reflete não apenas questões de oferta e demanda, mas também a precificação das expectativas. “O déficit público acaba pressionando o câmbio ao impactar a conta corrente do país. Em outubro de 2024, o Brasil registrou déficit de US$ 5,9 bilhões em transações correntes, muito diferente do superávit de US$ 451 milhões no mesmo mês do ano anterior”, explicou.
Overshooting e cenários comparativos
Sobre a volatilidade extrema no mercado, Salvador destacou o fenômeno conhecido como overshooting, no qual a taxa de câmbio sobe além dos fundamentos econômicos e corrige apenas no longo prazo. Ele comparou a situação atual com outras crises, como o impeachment de Dilma Rousseff e o auge da pandemia de COVID-19. “Ou o Brasil caminha para um cenário inédito de deterioração, ou estamos diante de um overshooting que será corrigido em breve”, ponderou.
Já o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), minimizou a disparada do dólar, atribuindo o movimento a especulações financeiras. “Esse negócio do dólar é uma especulação de altíssimo grau. O mercado depende muito da maturidade dos agentes financeiros”, afirmou.
Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, a resistência do câmbio em voltar a patamares inferiores a R$ 6,00 reflete a desconfiança do mercado com o ajuste fiscal e as recentes propostas do Executivo. “Em vez de comemorarmos os bons números da atividade econômica, o foco é a dívida pública. Essa preocupação está sintetizada na oscilação do câmbio”, disse.
Apesar das incertezas, o mercado acionário brasileiro reagiu bem. O Ibovespa, principal índice da B3, subiu 0,80%, encerrando o dia aos 124.543 pontos às 17h10.