- 10/06/2025
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STF: Bolsonaro Negou Golpe e Chamou Atos de 8/1 de “Baderna” Durante Interrogatório

Na tarde desta terça-feira (10), a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) conduziu o interrogatório do ex-presidente Jair Bolsonaro no âmbito da investigação que apura uma suposta trama golpista para mantê-lo no poder após as eleições de 2022, vencidas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O ministro Alexandre de Moraes presidiu a sessão, que durou pouco mais de três horas e contou com momentos tensos, mas também descontraídos.
Durante o depoimento, Bolsonaro reconheceu que “hipóteses” foram discutidas com comandantes das Forças Armadas sobre contestar o resultado das urnas. Contudo, ele negou veementemente qualquer tentativa de golpe, afirmando que todas as conversas ocorreram “dentro das quatro linhas da Constituição”. Segundo o ex-presidente, os diálogos com os militares tiveram caráter de “desabafo”, mas não prosperaram por falta de “clima, oportunidade ou base sólida”.
O ex-presidente classificou os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, quando houve vandalismo na Praça dos Três Poderes, como uma “baderna”. Ele também pediu desculpas aos ministros do STF pelas críticas feitas em reuniões ministeriais durante seu governo, alegando que se tratava apenas de retórica e desabafo.
Tom descontraído marca o interrogatório
Um dos momentos mais leves do depoimento ocorreu quando Bolsonaro brincou ao convidar o ministro Alexandre de Moraes para ser seu vice em uma possível candidatura em 2026. A plateia e até o próprio magistrado riram da proposta, que foi prontamente recusada por Moraes: “Declino”.
Além disso, Bolsonaro rejeitou as acusações feitas pelo tenente-coronel Mauro Cid, delator do caso, de que ele teria enxugado uma minuta de decreto golpista que incluía o nome de Moraes entre autoridades a serem presas. “Não procede o enxugamento [da minuta]”, garantiu o ex-presidente.
Defesa das urnas e realização de governo
Durante o interrogatório, Bolsonaro voltou a defender o voto impresso e criticou decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que, segundo ele, limitaram sua campanha eleitoral em 2022. Ele citou o atual ministro do STF Flávio Dino, relatando que até mesmo adversários políticos já questionaram a confiabilidade das urnas eletrônicas.
O ex-presidente também aproveitou para destacar realizações de seu governo, como obras e projetos estruturais, além de ressaltar sua trajetória política iniciada como vereador no Rio de Janeiro.
Outros pontos abordados
Ao responder ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, Bolsonaro negou ter incentivado ou participado de movimentos para anular as eleições ou prender autoridades. Ele reiterou que nunca houve um “pontapé inicial” para um golpe e que as discussões mencionadas eram meras “hipóteses”.
Questionado sobre se um levante popular contra as eleições poderia ser considerado agir dentro da Constituição, Bolsonaro manteve sua defesa de que sempre cumpriu a Carta Magna. Ele também negou ter recebido voz de prisão de qualquer militar, conforme indagado pelo ministro Luiz Fux.
Contexto do caso
Bolsonaro é um dos oito réus investigados por supostamente tramarem um golpe de Estado no Brasil. Eles respondem por crimes como organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e dano qualificado contra patrimônios públicos. Este interrogatório faz parte das etapas finais do processo, com julgamento previsto para o segundo semestre deste ano. Em caso de condenação, as penas podem ultrapassar 30 anos de prisão.
Os depoimentos continuam ao longo da semana, com todos os réus sendo ouvidos pela Primeira Turma do STF. O general Walter Souza Braga Netto, único ausente presencialmente, prestará esclarecimentos por videoconferência.