- 13/02/2025
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Lula intensifica viagens pelo Brasil em busca de recuperar popularidade
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está apostando em um cronograma intenso de viagens pelo país para tentar reverter sua queda de popularidade registrada nas pesquisas mais recentes. Na última semana, ele passou pelo Rio de Janeiro e cidades da Bahia, e, entre esta quinta (13) e sexta-feira (14), cumpre agendas no Amapá e no Pará.
A estratégia de aproximação com a população não é nova: Lula já utilizou esse método no passado para fortalecer sua imagem e neutralizar crises. No entanto, especialistas alertam que o contexto atual é diferente, com um cenário político mais polarizado e um ambiente digital dominado por redes sociais, onde o petista enfrenta dificuldades para se comunicar com parte do eleitorado.
Popularidade em queda e a corrida para 2026
Pesquisas recentes indicam um aumento na desaprovação do governo Lula, incluindo em regiões que tradicionalmente apoiam o PT, como o Nordeste. Segundo levantamento da Genial/Quaest, divulgado em janeiro, a avaliação positiva do presidente caiu sete pontos percentuais no Nordeste e no Sul entre dezembro e o início do ano. Já a pesquisa da AtlasIntel/Bloomberg, divulgada na última terça-feira (12), apontou que 51,4% dos entrevistados desaprovam a gestão petista, contra 45,9% que aprovam.
Diante desse cenário, a equipe de Lula se movimenta para reverter a percepção negativa, já mirando as eleições de 2026. O presidente, que ficou temporariamente impedido de viajar devido a um acidente que lhe causou uma lesão na cabeça, voltou à ativa com um tour nacional, entregando casas, lançando obras e participando de eventos estratégicos.
No Amapá, Lula inaugurou um condomínio residencial em Macapá e lançou as obras de um novo campus do Instituto Federal do estado. Além disso, formalizou a entrega de terras da União ao governo estadual, movimento que também fortalece laços políticos com Davi Alcolumbre (União-AP), recém-eleito presidente do Senado. O governo federal tem interesse na liberação da exploração de petróleo na costa do Amapá, tema que pode render apoio estratégico no Congresso.
Já no Pará, Lula visita obras que preparam Belém para sediar a COP-30, a Conferência das Nações Unidas sobre o Clima. O evento é visto como uma vitrine internacional para sua gestão, reforçando sua agenda ambiental.
Estratégia já foi eficaz, mas o cenário mudou
A movimentação do presidente lembra o que ocorreu em 2006, após o escândalo do Mensalão. Na época, Lula mergulhou em viagens pelo Brasil, entregando obras e fazendo promessas em um contexto econômico favorável, o que ajudou a recuperar sua imagem e garantir a reeleição.
No entanto, o cientista político Adriano Cerqueira alerta que a conjuntura atual é bem diferente. Além de enfrentar uma oposição mais organizada, Lula tem dificuldades em adaptar sua comunicação ao ambiente digital.
“A estratégia de comunicação do Lula funcionava quando a grande imprensa dominava a formação de opinião. Hoje, as redes sociais são o principal canal de informação da população, e ele não tem a mesma versatilidade da oposição nesse meio”, explica Cerqueira.
Diferente de 2006, quando raramente enfrentava manifestações públicas contrárias, Lula agora precisa ser mais cauteloso com suas aparições. Por isso, segundo o analista, o petista tem priorizado visitas a estados onde encontra menos resistência política.
“Lula já está em ‘modo Eleição 2026’, tentando recuperar terreno fazendo o corpo a corpo com a população”, avalia Cerqueira.
Crise na comunicação e mudança na Secom
As dificuldades do governo em se comunicar com o eleitorado resultaram na troca do comando da Secretaria de Comunicação (Secom). Lula demitiu o ex-ministro Paulo Pimenta e nomeou o marqueteiro Sidônio Palmeira para tentar melhorar a imagem do governo.
A avaliação interna é de que os feitos da gestão petista não estão chegando à população de forma eficiente. Apesar da alta nos preços de alimentos e combustíveis, o Planalto acredita que parte da impopularidade se deve à falha na comunicação dos ministérios e na presença digital do governo.
Como parte da nova estratégia, Lula tem intensificado sua participação nas redes sociais, aparecendo em vídeos e adotando um discurso mais direto com os eleitores. Além disso, seus ministros e a primeira-dama, Janja da Silva, foram orientados a viajar mais pelo país para reforçar a presença do governo nos estados.
O cientista político Leandro Gabiati vê essa movimentação como um reconhecimento tácito de que a comunicação do governo falhou até aqui.
“O governo percebeu que precisava mudar a abordagem. Lula quer que os ministros saiam mais de Brasília e estejam mais presentes nos estados, dialogando com prefeitos, governadores, empresários e a sociedade. Se isso vai funcionar, ainda não sabemos, mas há uma tentativa clara de correção de rota”, diz Gabiati.
Declarações polêmicas e risco de novas crises
Apesar da tentativa de melhorar sua comunicação, Lula segue propenso a declarações polêmicas que geram repercussão negativa. Recentemente, ao comentar sobre o preço dos alimentos, o presidente sugeriu que os consumidores simplesmente deixem de comprar produtos caros para forçar a queda nos preços.
“Uma das coisas mais importantes para controlar o preço é o próprio povo. Se você vai no supermercado e desconfia que um produto está caro, não compra. Se todo mundo tiver essa consciência, o comerciante vai ter que baixar o preço para vender”, afirmou o presidente em entrevista a uma rádio baiana.
A fala rapidamente se espalhou nas redes sociais e foi alvo de críticas da oposição. O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ironizou a declaração, afirmando que, seguindo a lógica de Lula, as pessoas deveriam simplesmente parar de consumir qualquer produto que encarecesse.
Mesmo com os riscos de repercussão negativa, a equipe do presidente não pretende moderar seus discursos. A estratégia do Planalto é manter Lula no centro do debate, evitando que a oposição dite a pauta. Resta saber se essa abordagem será suficiente para conter a queda na popularidade e reverter a percepção negativa da população.